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Pais com traços narcisistas: o que fica nos filhos?

  • Foto do escritor: Marina Maia
    Marina Maia
  • 16 de abr.
  • 4 min de leitura

Crescer numa família em que uma das figuras parentais tem traços narcisistas é descobrir, desde cedo, que o amor é condicional. Que o afeto depende do comportamento certo, da resposta certa, da imagem certa. Que há pouco ou nenhum espaço para existir como se é e expressar o que se sente. A criança que cresce neste tipo de relação assimétrica aprende a moldar-se para caber no mundo emocional do adulto, anulando partes importantes de si neste processo.


Nestes contextos familiares, o foco raramente está no bem-estar da criança, mas sim nas necessidades emocionais da figura parental com traços narcisistas. A validação, o reconhecimento e até o carinho tornam-se ferramentas de controlo, usadas para manter a lealdade, silenciar a individualidade ou alimentar uma imagem idealizada da família. E o que sobra, nos filhos, são cicatrizes emocionais que, muitas vezes, só se tornam visíveis na idade adulta — quando a sensação de vazio, culpa ou desconfiança começa a pesar demasiado.


Neste artigo, olhamos para três das consequências mais comuns: expectativas irrealistas, culpa crónica e dificuldade em confiar — e o que tudo isto pode significar para quem tenta encontrar-se consigo mesmo depois de crescer num ambiente assim.


 

Expectativas irrealistas: o ideal inalcançável


Um dos traços mais presentes em pais narcisistas é a tendência para ver os filhos como uma extensão de si próprios. Isso pode traduzir-se em exigências constantes para que a criança seja perfeita — na aparência, no comportamento, nos resultados escolares – e, sobretudo, na forma como é percebida pelos outros.


Nessa lógica, o amor torna-se condicional: está sempre ligado ao que o(a) filho/a “oferece” ao ego do progenitor. O erro não é entendido como parte do crescimento, mas como uma ameaça à ligação afetiva. Por isso, muitas crianças crescem com a sensação de que têm de se esforçar constantemente para serem "suficientes". Desenvolvem um perfeccionismo rígido, vivem com medo de falhar e têm enorme dificuldade em aceitar as próprias vulnerabilidades. Mesmo quando conquistam algo, o alívio dura pouco — há sempre mais a provar, mais a corresponder.



Culpa crónica: a inversão de papéis


Quando a criança cresce num ambiente emocionalmente instável, onde o adulto exige atenção, compreensão ou validação da parte dela, forma-se uma inversão subtil (ou nem tanto) de papéis. A criança passa a sentir-se responsável pelo bem-estar emocional do pai ou da mãe. Qualquer conflito, tristeza ou afastamento pode ser vivido como culpa pessoal: “Será que fui eu?”, “O que é que fiz de errado?”.


Muitas vezes, situações de mal-estar são acompanhadas por expressões como “olha o que me fazes passar”, “magoo-me por tua causa” ou “depois de tudo o que fiz por ti”, que reforçam este sentimento de culpa.


Essa culpa instala-se de forma tão silenciosa que, em adultos, muitos filhos continuam a sentir que não podem estabelecer limites, afastar-se ou simplesmente dizer não — por medo de magoar o outro, mesmo quando esse outro foi quem mais os magoou.



Dificuldade em confiar: quando se cresce em alerta constante


Num ambiente onde o afeto está sempre condicionado, onde a verdade da criança é negada ou ridicularizada, é difícil aprender o que é segurança emocional. Muitas destas crianças crescem em hipervigilância — a antecipar reações, a calcular palavras, a esconder sentimentos.


O impacto disso é profundo e duradouro. Na idade adulta, esta insegurança nas relações pode traduzir-se em dificuldade em confiar nas intenções dos outros, incapacidade de baixar a guarda, o medo de depender de alguém, a sensação de que se está sempre a mais e a dificuldade em sentir-se merecedora de relações saudáveis. O reflexo de um sistema de defesa construído para sobreviver ao ambiente familiar da sua infância.



Olhar a infância com outros olhos: a importância da terapia


Reconhecer que se cresceu com pais com traços narcisistas é, muitas vezes, um processo doloroso. Não porque a dor não estivesse lá antes, mas porque nomeá-la torna impossível continuar a escondê-la. Ainda assim, é nesse reconhecimento que nasce a possibilidade de fazer diferente e mudar.


As consultas de Psicologia oferecem um espaço seguro para revisitar esta infância sem as lentes da culpa ou da distorção que o sistema familiar impôs. Permitem desconstruir as crenças que se formaram acerca de si próprio e resgatar a verdade emocional da criança que apenas queria ser amada como era.


Este processo não tem como foco apontar culpados, mas sim compreender o impacto da experiência vivida e acolher a própria história com compaixão. É o reconstruir da sua narrativa de vida, de forma a que seja mais justa, livre e verdadeira.


Se sentes que este texto fala contigo, talvez seja tempo de olhar com mais gentileza para a tua história. Procurar consultas de Psicologia para um acompanhamento psicológico é uma decisão corajosa de quem decide cuidar das suas feridas e construir relações mais verdadeiras contigo e com os outros.



FAQ

Como saber se cresci com pais narcisistas?

Se sentes que o afeto que recebias era condicional, que eras responsabilizado(a) pelos sentimentos dos teus pais ou que não podias ser genuíno(a) sem medo de rejeição, talvez tenhas crescido com uma figura parental com traços narcisistas. O acompanhamento psicológico pode ajudar a esclarecer essa vivência.


Todos os pais narcisistas são abusivos?

Nem todos os pais com traços narcisistas são abusivos de forma explícita. O narcisismo pode manifestar-se de forma subtil, através de manipulação emocional, exigências constantes ou ausência de empatia. Ainda assim, o impacto nos filhos pode ser profundo.


É possível recuperar dos efeitos de crescer com pais narcisistas?

Sim. Com acompanhamento psicológico, é possível reconhecer as feridas emocionais, reconstruir a autoimagem e aprender a estabelecer relações mais seguras. O primeiro passo é validar a tua história e procurar ajuda especializada.


As consultas de Psicologia podem mesmo ajudar nestes casos?

Sim. O acompanhamento psicológico permite desconstruir padrões aprendidos, libertar-te da culpa e resgatar a autenticidade que foi silenciada. É um processo de reconexão com quem és, para além do que te foi exigido.


 
 
 

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